A felicidade do mundo

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Hoje sabe-se menos, mas chega-se mais longe

Hoje sabe-se menos, mas chega-se mais longe
Investigadores defendem a progressiva ausência de intromissão do Ministério da Educação. "Não legislar durante cinco anos" seria o seu maior contributo
2010-09-12
HELENA TEIXEIRA DA SILVA in http://jn.sapo.pt/Domingo/Interior.aspx?content_id=1660462

Sabem menos do que o necessário, mas não menos do que há 30 anos, comparação que os especialistas consideram desajustada. Sabendo menos, chegam mais longe: transitam de ano, mesmo com várias negativas acumuladas e entram, sem dificuldade, no Ensino Superior. Apesar disso, no ranking divulgado, esta semana, sobre as 200 melhores universidades do Mundo, não consta nenhuma portuguesa.
Indiferente, o Ministério da Educação vibra com as estatísticas: os chumbos diminuíram no Ensino Secundário; a percentagem de estudantes que optou pelas vias profissionalizantes representa cerca de 60% dos alunos inscritos nesse universo; modelos alternativos como os Cursos de Educação e Formação (CEF) e as Novas Oportunidades têm ajudado a compor o que parece ser um salto brutal na escolarização do país. Até há bem pouco tempo, as taxas de abandono escolar eram as mais altas da União Europeia (UE), onde a percentagem de portugueses entre os 20 e os 24 anos com apenas o Ensino Básico era de 40% (a média da UE é de 25%) e onde apenas 20% da população activa possuía o 12º ano, metade da média europeia.
A mudança abrupta verificada, sobretudo, nos últimos cincos anos deveria, teoricamente, ser sinónimo de cidadãos mais informados, mais cultos, mais criativos, mais capazes de resolver problemas e aptos a conquistar o mercado de emprego em qualquer parte, senão do mundo, pelo menos da Europa. A prática, no entanto, revela que os planos curriculares não têm cessado de mudar e que onde antes se privilegiavam disciplinas como a História ou a Filosofia, existe hoje a aprendizagem rodoviária ou sobre Direitos Humanos. A memória foi banida em detrimento do prazer. O que aprendem afinal os alunos nas escolas portuguesas?
Com tantas reformas educativas levadas a cabo nos últimos quase 40 anos - desde que se iniciou, no fim dos anos 60, a massificação da escola -, é surpreendente que ainda não se tenha alcançado, em Portugal, nem um consenso entre todos os agentes do meio - Ministério da Educação, pais, professores, alunos -, nem resultados de tal forma sustentados que inviabilizem a iminência constante de nova reforma. Pelo contrário, as mudanças, sobretudo ao nível do plano curricular, em vez de enriquecerem os alunos parecem estar a empobrecê-los. E as tentativas de inverter a tendência podem nunca terminar. Pelo menos, é essa a posição dos especialistas ouvidos pelo JN, quando questionados sobre a qualidade e o fim dos conteúdos apreendidos hoje pelos alunos portugueses.
"É uma hipocrisia. É a educação do faz de conta", afirma, pessimista, Joaquim Azevedo, membro do Conselho Nacional de Educação e investigador da Universidade Católica do Porto, para julgar o que diz ser "a educação para as estatísticas". Ele, que é uma das vozes mais críticas do sistema, não se conforma com o fim dos exames nacionais para todas as disciplinas - política que, de resto, teve a sua assinatura enquanto secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário em 1992 e 1993 -, nem com o facto de o investimento no 1º Ciclo "nunca ter sido uma prioridade em Portugal". "O que não se aprende nesses primeiros quatro anos - ler, escrever, calcular - dificilmente conseguirá aprender-se depois." E são essas lacunas que ficam por corrigir logo no início, que contaminam os ciclos que se seguem.
Além disso, a avaliação, através de exames nacionais circunscritos a parcas disciplinas, "cria o perigo de os alunos desvalorizarem tudo o que não vai ser objecto de avaliação", corrobora José Augusto Pacheco, do Centro de Investigação em Educação, da Universidade do Minho. Isso, "acrescido à redução da carga horária", espoleta "o risco de ser possível chegar mais longe, sabendo menos", concretiza. "Um risco tanto maior porque será algo que a sociedade irá sempre vincar em termos de empregabilidade". Ou seja, de pouco valerá concluir o ensino obrigatório, mesmo agora, cifrado no 12º ano, ou mesmo ingressar no Ensino Superior, se ao título académico não corresponder um efectivo domínio da matéria dada.
Mas é justamente esse domínio, observa José Alberto Correia, do Centro de Investigação e Intervenção Educativas, da Universidade do Porto, que está no centro de "um equívoco". "A substituição dos conteúdos pelas competências, ou seja, ensinar a pensar em lugar de ensinar os ditos conteúdos, com a sucessiva desvalorização da memória, revela uma mudança de superfície e não de fundo - e é uma oposição. Porque para pensar é preciso ter um objecto de pensamento e uma intencionalidade". Sem essa base, sublinha, "este sistema de ensino tende a acentuar as desigualdades." A situação é agravada "pelas pedagogias do prazer, em que se defende a aprendizagem sem esforço, confundindo-se, no fundo, o esforço com o sofrimento - outro erro".
O investigador introduz ainda outro factor de ruído, igualmente partilhado pelos colegas. "A escola nunca teve tantas missões como agora - educação rodoviária, para a paz, para os direitos humanos, etc - e tende a implodir. Há um trabalho da sociedade da qual a escola faz parte, mas a escola não pode ser o centro". Daí que Alberto Correia defenda que hoje "não há falta de escola, mas escola a mais".
Joaquim Azevedo segue-lhe as pisadas, mas vai mais longe. "A obrigação da escola é transmitir uma herança cultural, é esse o elemento potenciador de conhecimento. Introduzir disciplinas como a aprendizagem rodoviária funciona como factor de perturbação". E arrisca: "A escola, quando se torna um espaço de ocupação social dos alunos, ignorando a sua missão mais importante, está condenada. Porque não exige, não desenvolve".
Sem discordar, Augusto Pacheco é mais prudente. "A escola tem-se batido sempre com esta dualidade entre o curricular e a formação social e profissional. Não pode a instituição distanciar-se dessas novas valências, mas tem de o fazer de forma organizada, o que não tem acontecido". Aprender, torna Joaquim Azevedo, "é diferente de integrar".
É neste substantivo - integração - que reside uma das questões cruciais do actual sistema de ensino. "Como podemos hoje, no ambiente de uma escola aberta a todos, oferecer aos alunos condições de aprendizagem com qualidade para todos?", questiona Joaquim Azevedo. A teoria que preconiza não é isenta de alguma cautela, uma vez que, de alguma forma, contraria a ideia de que, pelo menos à partida, somos todos iguais. "Aos cinco anos, já temos demasiada bagagem. Até aí, os estímulos, sobretudo ao nível da linguagem, são fundamentais. Estão feitos até aos seis anos ou não". Ou seja, apesar da democratização do acesso ao ensino, as crianças já não chegam lá em igualdade de circunstâncias. "Os níveis socio-económicos de entrada são os de saída. Está estudado e demonstrado", garante. "As desigualdades de partida não se combatem na escola, nem é à escola que compete mudar essa realidade", insiste. "Confundir a igualdade de acesso com uma lógica igualitarista é um erro".
É esse problema, sintetizado na ideia de que é possível dar tudo a todos da mesma forma, numa altura em que a escola hoje já não é apenas a elite, que "é um erro político que não temos sabido resolver". Azevedo diz mesmo que "a escola da democracia não pode ser a das elites". Querer reproduzi-la, afirma, resultou "numa entrada no futuro aos recuos". "É um problema político que vamos pagar muito caro no futuro", sentencia. Um preço ainda mais alto, porque, argumenta, "não há consenso, nem soluções para a educação em nenhum partido político".
Na opinião do investigador, é urgente parar de baralhar e voltar a dar sem pensar para analisar o que está a acontecer com o ensino e as consequências que daí virão a resultar. "É óbvio que os alunos saem cada vez com mais lacunas", diz. "O momento é complexo e difícil", mas ele avança uma solução - e não está sozinho nela: "É preciso impedir o Ministério da Educação (ME) de legislar, impondo, em vez disso, planos anuais de melhoria gradual em todos os currículos. É preciso acabar com o paradigma do controle que o Ministério protagoniza há 36 anos". Augusto Pacheco subscreve, mas chama-lhe "órgão de controle a posteriori".
"Se fosse imperioso fechar as instituições quando falham, a primeira a encerrar seria o ME", ironiza, considerando-o "o principal responsável pela imposição de um modelo único de pensamento".

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Mediação sócio-educativa: alguns contributos para a clarificação do conceito.

Neste trabalho questiono o(s) sentido(s) de mediação e problematizo, num momento seguinte, a mediação a partir de uma perspectiva oriunda da psicologia e que tem por base o diálogo, enquanto processo de criação de soluções aceitáveis. Ao mesmo tempo procuro intersectar olhares próximos de paradigmas de interpretação sociológica que apoiam uma compreensão mais profunda sobre esta problemática da mediação. Por último, centro a atenção em modelos de natureza construtivista e em reflexões teóricas e conceptuais acerca do tema da mediação em educação. Termino com uma reflexão sobre as possibilidades e os limites da mediação.

1 - De que falamos quando falamos de mediação?
A mediação tem já uma longa história e existência, apesar de ser uma terminologia apenas muito recentemente utilizada no campo educacional. Da consulta bibliográfica realizada, fundamentalmente a obra I Timóteo (2:6-6) é possível identificar que desde os primeiros passos da humanidade, a mediação existe em quase todas as culturas.
Porém, a mediação formalmente instituída, surge no sector dos trabalhadores, em iniciativas de organização para os seus direitos, a partir do início do Século XX. O uso desta mediação representa um garante da estabilidade social das forças de produção do capitalismo emergente, que fez emergir conflitos laborais entre os detentores do capital e a força trabalhadora. Pela primeira vez nos Estados Unidos, “em 1913, foi estabelecido que o U. S. Departement Labor, e um grupo – os comissários da conciliação – foram indicados para tratar dos conflitos entre empregados e patrões” (Moore 1998:34). Estes procedimentos de mediação no sector industrial e económico visavam uma profunda estabilidade através de acordos que evitassem as greves, as paralisações, procurando incrementar a segurança e o bem-estar da sociedade Americana.
A partir deste modelo, a mediação patrocinada pelas agências de governo, desenvolvida com mediadores para lidar com os conflitos laborais, através de regulamentos, não se cingiu ao sector trabalhista; outros sectores da governabilidade da Nação reconhecem a mediação como um meio de garantir às comunidades e às pessoas a possibilidade de “resolver as suas disputas, desacordos ou dificuldades em relação a práticas discriminatórias relacionadas com raça, cor ou nacionalidade” (Civil Right Act, 1964, in op. cit p, 39).
A prática de mediação de conflitos adquire uma considerável aceitação nos países anglo-saxónicos. A partir da década de 70, a Alternative⁄Amicable Dispute Resolution (ADR)[1] é entendida como um processo alternativo para resolução de contendas, ou seja, é um método opcional ao clássico método litigioso judiciário. O processo, a mediação, permite que as partes em conflito resolvam os seus próprios problemas por meio da intervenção qualificada de uma terceira pessoa imparcial (mediador), que ajuda e leva as duas, ou mais, partes agenciadas a identificarem os pontos de conflito e, posteriormente, desenvolverem de forma mútua propostas que ponham fim ao conflito. Na perspectiva de Vasconcelos, (2002), o mediador neutro é aquele que facilita a comunicação e permite muitas vezes que as questões colocadas na mesa de negociação “fluam” com maior naturalidade, participa e conduz as reuniões com as partes de modo a coordenar o que forem argumentado, devendo favorecer a comunicação e, em casos de impasse, intervindo de modo a auxiliar a compreensão e reflexão dos assuntos[2].
No contexto Europeu, e como referem Correia e Caramelo (2003), a questão da mediação apareceu originariamente no campo jurídico. Emerge do corpo jurídico, resultante da sobrecarga do macro aparelho jurídico para resolver casos, e da transferência para a resolução local dos casos mais pequenos para não sobrecarregar o sistema judicial, e não haver conflitualidade social. A problemática da mediação social resulta, assim, da afirmação da crise dos grandes dispositivos judiciais e da normatividade jurídica. No contexto português, podemos referenciar, no campo jurídico, os Julgados de Paz, Tribunais Extrajudiciais, enquanto instâncias com características especiais, competentes para resolver causas de valor reduzido de natureza cível. A sua criação, e as suas actuais redacções surgem na transição de década de 80 para 90, ao abrigo das revisões constitucionais de 1989 e 1997[3].
Estes tribunais, os Julgados de Paz, procuram resolver os conflitos através da mediação, se ambas as partes em disputa /conflito assim optarem, com a intervenção de um Mediador de Conflitos. A mediação é assim entendida como: “uma forma voluntária e confidencial de resolução de litígios em que as partes, de uma forma simples e participativa, auxiliadas por um Mediador de Conflitos, procuram alcançar uma solução que a ambas satisfaça para o litígio que as opõe, a qual termina com a assinatura de um Acordo de Mediação[4]”.
É, pois, comum associar-se o termo mediação à intervenção de um terceiro elemento perante um conflito onde estão envolvidas duas partes (sujeitos individuais ou colectivos). Se consultarmos o dicionário de língua português, nele é expresso o conceito de mediação como “o acto ou efeito de mediar, que por sua vez significa estar no meio; intervir acerca de”[5], ou seja intervir entre duas partes em disputa com a finalidade de produzir acordo ou reconciliação, ou conectar elos entre partes, grupos, etc.

2 - A mediação do ponto de vista da psicologia

Neste percurso de clarificação dos sentidos de mediação sócio-educativa procuro agora caracterizar o conceito de mediação e de mediador apoiando-me na perspectiva da psicologia. Tal abordagem insere-se num paradigma de comunicação, isto é, num entendimento de mediação enquanto prática que procura formas comunicacionais nas quais o diálogo pode ser utilizado para criar soluções satisfatórias. Ao mesmo tempo, o diálogo é entendido como forma de gerar soluções satisfatórias, com vista a melhorar e a transformar as relações entre pessoas e os grupos e a melhor as relações sociais. Ou seja, nas palavras de Schnitman (1999) “os diálogos mediadores, são aqueles que em meio a contradições e conflitos, permitem encontrar palavras/perspectivas que possam ser assumidas como próprias pelos participantes, que permitam visualizar para o futuro uma realidade possível” (op. cit. p, 102).
No âmbito da psicologia que se centra nas abordagens construcionistas sociais a mediação é entendida como portadora de um potencial transformador das pessoas que participam no processo, este potencial só é possível se o diálogo, a negociação, a comunicação não se limitar a ser entendido como um intercâmbio de mensagens, que na melhor das hipóteses produz um acordo. A comunicação deveria ser um processo de construção social e, como tal, “o principal objectivo da mediação não deveria ser chegar a um acordo, mas cultivar as capacidades dos participantes de capacitação, de reconhecimento e de consciência” (Shailor, 1999: 84).
Partindo do princípio que vivemos em sociedade e nos integramos e sentimos melhor integrados em determinados grupos do que em outros (os outros são bons ou maus), o etnocentrismo próprio de cada sociedade, e de cada cultura, aponta para o conceito de alteridade – de distância ou separação de determinados outros – é praticamente um resultado inevitável da vida social, em consequência gerimos realidades e moralidades dentro dos grupos onde nos integramos, na família, na comunidade, na escola, no mundo laboral. Obtemos a ideia de quem somos, valorizamos determinados dos valores morais. Ao mesmo tempo, criamos um exterior desvalorizado, o local não é nosso, não é aquilo em que acreditamos, não é a verdade, nem o que é bom. Para Gergen, (1999), “esta desvalorização deriva-se, de uma forma importante, da estrutura da linguagem a partir da qual construímos a realidade” (op. cit. p, 29). Ou seja, na perspectiva deste autor, se a linguagem é um meio diferenciador no qual cada palavra significa, ou indica, o que é exterior, contrário, que está ausente, desta forma ao declarar o que é bom e mau estamos a excluir o ausente e o contrário para as periferias.
Na linha de Gerken, (1999), o problema da diferença é ainda reforçado por tendências secundárias: a tendência de se evitar aqueles que são diferentes, “especialmente quando parecem antagónicos ao seu modo de vida” (op. cit. p, 29), impele-nos a evitar encontros, conversas, reuniões sociais, por outro lado, a tendência para a qual as explicações do outro se tornam simplificadas está na origem das escassas oportunidades de intercâmbio geradas pela tendência de evitar o que é diferente. Por último, a tendência ininterrupta de explicar as acções dos outros de forma negativa, fomenta uma interiorização: lentamente, o outro assume a forma de inferior, do obtuso ou do depravado. Neste contexto a psicologia social fala de “estereotipagem negativa” (op. cit. p, 30), isto é, concepções rígidas, redutoras e simplificadoras do outro.
É obvio que todas estas tendências levam à atomização social: ao nível da escola, como conflitos entre alunos, entre grupos, como tensões entre os órgãos de direcção e os docentes, tensões entre docentes[6]; ao nível da sociedade, os conflitos que opõe esquerda e direita, entre os liberais e os neo-liberais, entre o económico e o ecológico, entre aos defensores dos direitos à vida e os defensores da pena de morte; a nível global, na actualidade, deparamos com tendências semelhantes que separam culturas, etnias, crenças religiosas. Nesta ordem de ideias, o intercâmbio social é produtor de tendências de divisão e de conflito. Esta ideia explica que as tendências de separação e de conflito são o produto do intercâmbio social e relacional, neste sentido, sempre que tentamos realizar um processo normal de criar unanimidade em torno do que está certo e errado, estamos a produzir classes do incómodo, do oposto, ou de aquilo que é indesejável.
Numa organização como a escola, é comum fazer parte das aspirações do Projecto Curricular as tendências que apontam para a unidade, a coesão, a comunidade, o trabalho em equipa, o comprometimento, no entanto estas tendências são por si mesmas geradoras de alteridade e de conflito. Todos nós somos indesejáveis em alguma parte, por uma ou mais pessoas, por um grupo (s) profissional, cultural, desportivo, social.
Será possível então criar sociedade / comunidades fraternas, isentas de conflitos, e uma nova ordem de mundo harmoniosa?
Retomando Gerken, (1999), este considera que a grande questão para o século XXI é de como “vamos conseguir viver juntos numa comunidade global” (op. cit. p, 30), e no sentido de dar resposta a esta questão, dentro de uma orientação teórica construcionista social, sugere que “se é pelo diálogo que surgem as bases do conflito, então o diálogo pode ser nossa melhor opção para tratar de realidades conflituantes” (ibidem). Na linha de Schintman (1999) “o diálogo é o meio e o instrumento”(op. cit. p, 109) para a mediação, tendo em conta que qualquer acto de mediação pressupõe um propósito e um acordo deliberado de co-criação de vias alternativas e co-gestão responsáveis em situações controversas.
Gerken, (1999), por seu lado, dá ênfase ao conceito de diálogo transformador associado a um conjunto de práticas e objectivos, a serem alcançados. O diálogo transformador pode ser entendido como qualquer forma de intercâmbio que consiga transformar uma relação entre indivíduos, que estão em realidades opostas e antagónicas, numa relação de realidades comuns e solidificadoras, a ser construídas com base no diálogo.
Ao contrário das orientações racionalistas e realistas do diálogo que fomentam a alteridade[7], as orientações racionalistas tendem a ver o indivíduo como um agente independente, capaz de raciocinar acerca do seu caminho para alcançar objectivos identificáveis, enquanto que as orientações realistas tendem a postular uma única realidade existente, baseadas em estruturas de recompensas, punições e compensações. Do ponto de vista da perspectiva construcionista social, tanto o racional quanto o real são produtos de relações sociais: no entanto, apesar de reconhecer que o raciocínio estratégico ou regras de deliberação racional estão histórica e culturalmente situados, a perspectiva construcionista reconhece que qualquer padrão, objectivo fixo, resultará com o término do privilégio de participação significativa de uma pessoa ou grupo. Neste sentido, acabamos por diminuir a possibilidade de novas formas de alteridade.
Em relação ao realismo, os construcionistas, entendem que o que é considerado real, os interesses das pessoas, soluções e ideais, são acções de um discurso, ambíguo e flexível, que é aceitável para determinadas pessoas em determinados momentos, o que se traduz por estabelecer limites ontológicos para o desenvolvimento do diálogo. Ao estabelecermos “os seus interesses como sendo opostos aos nossos” (op. cit. p, 32), estamos a desencorajar discursos sobre: direitos, deveres, fraternidade, colaboração e estamos a reduzir as potencialidades do diálogo enquanto possibilidade de construção mútua da realidade. Neste sentido, os construcionistas consideram que as concepções das pessoas, enquanto indivíduos independentes, são um artefacto histórico e cultural. Separar indivíduos, cada um com os seus interesses, percepções e razões específicas, implica uma alteridade inalterável, “no âmago da visão individualista encontra-se num mundo de todos contra um” (ibidem).
De acordo estas ideias o autor sugere, “porque não trabalhar de cima para baixo” (ibidem) ou seja, partamos para o mundo da acção e, especificamente, para os casos em que as pessoas parecem estar a lidar de maneira bem-sucedida com problemas de realidades diversas e conflituantes, e, que não orientam a sua acção sobre os compromissos racionalistas e realistas. Neste sentido, entendo que dentro do campo escolar é possível identificar as práticas e condições dialogantes que têm um potencial transformador amplo, e que se podem estudar em termos teóricos à luz da perspectiva teórico construcionista de forma a completar a minha visão sobre o estudo em causa[8].
Retomando o alerta de Gerken (1999) de que “não há regras universais para o diálogo transformador, pois o próprio diálogo alterará o carácter da utilidade transformadora”(op. cit. p,4), considero que ao identificarmos práticas e condições dialogantes com estas características, não só estamos a estudar os motivos da sua eficácia, mas também estamos a identificar outras formas de acção que poderão funcionar de forma semelhante e que podem ser adaptadas a outros contextos. Nesta linha de ideias, é evidente que o diálogo transformador não se resume a um conjunto de regras e de procedimentos rígidos, ao contrário, “as expectativa são fomentar um vocabulário de acção relevante juntamente com uma forma de deliberar as funções e a tradução em outras práticas” (ibidem), embora, seja oportuno referir que este vocabulário deve ser utilizado como um recurso útil para a situação presente e usar os recursos teóricos com a finalidade gerativa, isto porque, no decorrer da acção dialogante à medida que esta se desenrola e progride, no tempo e na acção, os significados são transformados. Por outro lado, conforme vão surgindo opiniões e estas são incorporadas no diálogo, o vocabulário é aumentado, enriquecido e alterado.
No foco do diálogo transformador está a ênfase dos seus objectivos, comportamentos relevantes, que pretendem levar: à responsabilidade na relação, à auto-expressão, à afirmação, à coordenação, à reflexividade e à co-criação de novas realidades.
No que diz respeito à responsabilidade na relação - a hostilidade - culpabilizamos sempre os outros pelo conflito. Segundo o autor esta é uma reacção normal e agrava-se com diferentes grupos, por exemplo, os professores e os alunos culpam-se mutuamente pelos insucessos, todos pensamos que os outros é que são os culpados. O outro é por nós construído como responsável pelas suas acções e pelos seus erros, esta responsabilidade individual é, ainda, muito valorizada nas nossas culturas e por isso valorizada por nós.
Nesta atitude, estamos a perpetuar um obstáculo tradicional no diálogo, ou seja, esta forte culpabilização individual é divisora na medida em que começamos por estabelecer fronteiras entre os dialogantes. Ao culpar o outro estamos a posicionar-nos numa relação de superioridade: nós somos os detentores da verdade, sabemos o que está bem e o que está mal. O outro, é visto como um indivíduo, ou grupo(s), com defeitos, sujeito aos nossos julgamentos, sujeito à nossa correcção, enquanto nós somos e permanecemos dignos de louvor e poder. Esta atitude de uns culparem os outros e a tradição de culpa individual destrói, como é óbvio, o processo de diálogo transformador. Neste sentido, e de acordo com Gerken (1999), o modo de contornar este obstáculo reside no facto de se tudo o que consideramos de verdadeiro e de bom reside nas relações e no processo de construção de significados em contínua transformação, então, estes em vez de se constituírem como obstáculos, devem ser considerados como um meio de manter os processos de comunicação, nos quais o significado não está inalterável, de forma a atingirmos a responsabilidade relacional através de uma linguagem relacionalmente mais responsável na vida dia-a-dia.
Mas de que forma será possível dar resposta à possibilidade de afastar esta culpabilização individual? Gergen, (1999), sugere que consideremos os seguintes pontos no sentido de ultrapassarmos este obstáculo:
os outros internos – comunicamos o nosso descontentamento, no entanto, estamos em posição de avaliar as nossas acções como algo que não seja nós mesmos, ou seja, consideramos que o self central não esta à defesa, optar por “encontrar em mim uma outra voz que está falando por mim na situação” (op. cit. p, 36);
as relações conjuntas – não são os outros os culpados, ou nós, responsáveis pelo tipo de relação, mas o nosso padrão específico de relacionamento, o que poderá trazer um efeito de deslocar indivíduos acusáveis por um “sentimento de relação independente” (ibidem);
as realidades de grupos – no seio de grupos de trabalho, por exemplo, há a tendência de culpar outros elementos pelo insucesso ou pelo mau relacionamento. Não nos podemos ver como indivíduos isolados, ao concentrarmo-nos nas diferenças, reconhecemo-nos como representantes de grupos, portadores de tradições, hábitos culturais, “a culpa individual tem uma importância diminuta” (ibidem);
a expansão sistemática – a culpabilização individual, a voz da culpa individual de um aluno que teve um comportamento reprovável é insuficiente, por exemplo, o caso, ocorrido no ano lectivo 07/08, da aluna que agrediu uma professora na sala de aula porque esta lhe retirou o telemóvel. No entanto, podemos ser confrontados porque é que é proibido usar o telemóvel na sala de aula quando outros professores permitem e até os usam durante a aula? Não pretendo dizer que a aluna não tivesse sido julgada ou sancionada, mas sim, e referenciando o autor que tenho vindo a seguir admitir que “outra voz pode ser acrescentada, de forma útil, à conversação, ao ampliarmos nossas preocupações para as formas com que participamos como sociedade na criação de condições para a maioria das coisas que desprezamos” (op. cit. p, 37)
O objectivo da auto-expressão é dar ao diálogo a possibilidade de nos levar à mudança, para isso e para que o diálogo decorra da melhor forma possível, é fundamental que a nossa opinião seja ouvida. Facultar aos intervenientes a possibilidade de compartilhar as suas opiniões que são importantes para si, tendo em conta que acreditamos que possuímos pensamentos e sentimentos internos e que estes são de suma importância para aquilo que somos, estes são o que nos definem, se os participantes falarem de forma pessoal, contarem as histórias do próprio envolvimento da questão em debate, estamos a viabilizar a diálogo. Neste sentido, aquilo que sentimos e pensamos, ao ser ouvido e partilhado é uma das condições para que o diálogo decorra da melhor forma possível. Ao contrário de utilizarmos argumentos abstractos, aos participantes deve ser pedido para contar histórias do seu próprio envolvimento na questão que está a ser discutida. Gerken, (1999), considera que há pelo menos três motivos pelos quais estas expressões são desejáveis para o diálogo transformador: 1) “as histórias são facilmente compreendidas” entendemos mais facilmente uma história que um argumento abstracto; 2) “as histórias podem levar a uma maior participação de todos”, facilmente ao ouvirmos o outro a contar a sua experiência, concebemos representações, vivemos a situação com o narrador; 3) por último “a história pessoal tende a gerar aceitação e não resistência” (op. cit. p, 37) ou seja, se estamos a ouvir uma experiência dificilmente se pode argumentar que o outro está errado ao invés da argumentação abstracta, isto porque resistimos à argumentação abstracta com argumentos abstractos que o outro achará igualmente insignificantes, logo o diálogo está encerrado.
Bem diferente de relatar os sentimentos e experiências é a afirmação do outro. Não suficiente ouvir o que o outro tem para dizer, é necessário encontrar, na mensagem, algo a que podemos conceder a nossa concordância e apoio. Atendendo ao pressuposto de que os pensamentos e os sentimentos são posses individuais, e para não ignorar e colocar o ser do outro em questão é necessário “afirmar e conceder valor, honrar a validade das subjectividades” (op. cit. p, 38) Por outro lado, e como é obvio, ao não valorizar as realidades do outro estamos a desvalorizar e a descartar relações que derivam do diálogo, ou seja, “abraçar uma ideia significa abraçar novas relações e abandonar uma ideia significa enfraquecer sua comunidade” (ibidem).
Em relação à coordenação da acção, o autor defende que “é na coordenação constituidora que encontramos a possibilidade de que a conversação saia do sedimentado para o sinergístico, do convencional para o catalítico, do nascente para o novo” (op. cit. p, 41). Nesta linha de ideias, e de acordo com o autor, a construção de significado é uma forma de acção coordenada, ou seja, para desenvolvermos significados juntos, devemos enveredar por fomentar padrões sem atritos e reiterativos de intercâmbio.
Ao mesmo tempo que as realidades de um indivíduo são ouvidas e afirmadas, e a conversação se torna cada vez mais coordenada, caminha-se para uma situação propícia para uma outra contribuição para se alcançar um diálogo transformador: a auto-reflexividade. No entanto, nas conversações convencionais partimos para estas com ideias fixas e coerentes, somos construídos como selves singulares e coerentes, o que se torna um obstáculo ao diálogo transformador, ou seja, quando numa conversação marcada pelas diferenças, o comprometimento com a unidade manterá a nossa distância, logo a validade e a integridade do outro é ameaçada e estamos rumo ao diálogo polarizador. O desafio transformador consiste, pois, em mudar a conversação rumo à auto-reflexividade, ou seja, levar o outro ao auto-questionamento. Deste modo, ao auto-questionarmo-nos a nossa postura firme e sólida “desvanece” e abrimos possibilidades para que outras conversações ocorram.
Por último e não menos importante é a co-criação de novas realidades, como já referi anteriormente o diálogo transformador objectiva fomentar a construção colaborativa de novas realidades. No entanto, o autor salienta que o mais importante no diálogo é o que podemos chamar de “momentos imaginários nos quais os participantes se unem para desenvolver novas visões de uma realidade.” (op. cit. p, 42). Estes momentos imaginários não só fomentam a co-construção com também modificam as posições defensivas dos participantes para posições mais cooperativas de participação, ou seja, à medida que nos movemos em direcção a um objectivo comum, também redefinimos o outro, e o trabalho base assume uma concepção de “nós”.
A partir desta abordagem, no meu entender, é possível a passagem de uma perspectiva ainda vinculada às racionalidades tecnológicas, a uma racionalidade complexa, construtiva do diálogo que transforma a maneira de entender, não só a resolução de conflitos, mas também, o campo da formação, o campo escolar, a prática profissional. Neste sentido a comunicação deixa de ser uma mero intercâmbio de mensagens isoladas, para dar lugar a um processo de criação conjunta de significados, processos em que se constroem práticas, relações, identidades e outras formas de realidade social. Ao mesmo tempo a comunicação apresenta-se como um meio de interacções permanentes e é entendida em termos de sistemas em co-evolução.
Em síntese, nesta construção teórica com referência às abordagens construcionistas sociais, a mediação é vista enquanto contexto de resolução alternativo à confrontação, ao paradigma do ganhar/perder, ao conflito, à disputa, ou ao litígio. A abordagem construcionista direcciona-se à co-participação responsável, à consideração e ao reconhecimento dos participantes, e supõe a possibilidade dos intervenientes ganharem mutuamente, construindo em comum bases de soluções efectivas que legitimam a participação de todos os envolvidos. É nesta perspectiva que enquadro o sentido da mediação que subjaz ao trabalho desenvolvido no Agrupamento em estudo.

No quadro do objecto em estudo, interessa, neste ponto, compreender de que forma a mediação surge no campo educacional, e na escola em particular, tendo em conta um entendimento de mediação que enfatiza relações de proximidade, lógicas comunitárias, e o estabelecimento de redes de comunicação. Ou dito de outro modo e como sugere Correia, (2008), uma mediação instituída não no sentido de criar um novo mecanismo de ordem social, mas como um processo fundamentalmente desencadeador de dispositivos de atenuação do conflito social, e de resposta “à questão de como podemos viver de forma mais ajustada[9]”. Nas suas palavras, nas últimas décadas, no contexto Europeu, a questão da mediação apareceu originariamente no campo jurídico e aparece associada à ideia de que o mediador é um terceiro, é um outro. Segundo o autor a mediação emerge do corpo jurídico devido à sobrecarga do macro aparelho jurídico para resolver casos considerando, assim, que a mediação social é a afirmação da crise dos grandes dispositivos e da normatividade jurídica.
O espaço discursivo em torno dos problemas sociais, e da sua efectiva resolução tem vindo nas últimas décadas a por a tónica na valorização do local e nas suas instituições, de entre as quais se situa a escola, bem como nas diversas formas de mediação social que aí se desenvolvem.
Nos Estados Unidos, nomeadamente no campo escolar, a mediação surge “como uma tentativa de repor aquilo que a afirmação da escola tinha destruído, que é alguma referência da escola ao local e de reduzir a conflitualidade que existe dessa desreferencialização da escola ao local[10]”. No que respeita ao contexto Europeu, Correia (2004) considera que os estudos que se têm feito sobre a mediação se situam na perspectiva de resolução dos problemas e não na criação das condições sociais para que os conflitos possam ser oportunidades de transformação. Na perspectiva deste autor, a mediação escolar tem duplas valências, e funda-se em modelos profundamente contraditórios: modelo concebido numa “perspectiva securitária” (ibidem) no qual o medidor intervém antes que o conflito se agrave até ao limite, e os modelos que se orientam dentro duma “perspectiva integracionista” (ibidem), no qual se questiona como lidar com as diferentes culturas dentro do espaço da escola.
No contexto escolar nacional, interessa pensar em formas de lidar com as culturas e heterogeneidades que “habitam” os quotidianos das escolas, sobretudo quando a educação os continua a pensar como sendo homogéneos. Neste quadro de ideias, e de acordo com Correia (2004), entendo que a MSE pode ter potencialidades no reequacionamento de problemas existentes. Na visão deste autor a mediação deve ser entendida como um contributo na estruturação de novas formas de equacionar o social, de forma a trabalhar os fenómenos que incrementam as tendências para a fragmentação tendo em conta que “a escola é habitada por vários mundos e desconhece a existência desses mundos, e pensa todos os mundos que habitam na escola por referência ao mundo escolar” (ibidem).
4 - A mediação no contexto educacional
No que diz respeito à problematização e conceptualização das questões de mediação em educação, e dentro do quadro teórico que me oriente, apresento uma breve reflexão sobre este conceito.
Na óptica de alguns estudiosos deste campo de saber, a mediação em educação, é um termo questionável, tão questionável que é possível dizer que educar e mediar são sinónimos (Caetano, 2003). Mediar e educar, enquanto funções, actos e finalidades podem ser entendidos como a mesma coisa. Ou seja, “educar é sempre uma forma de mediar” (op. cit. p, 42) entre o saber instituído e o saber experimental, entre a escola e os alunos, entre a escola e a família, entre a escola e a comunidade, etc. O educador, o professor, o formador, é um terceiro que dentro da situação, constitui-se como um desafio, se entendermos a educação / formação como “um desafio que estimula a procura dos sentidos” (ibidem).
No contexto nacional, ao analisar as principais referências à mediação no âmbito escolar, verifica-se que as práticas e os dispositivos de mediação subentendem influências quer da mediação judicial e da mediação de conflitos, quer dos contributos do campo de estudo da Psicologia no que se refere à gestão de conflitos. A mediação é assim entendida como um processo no qual um terceiro, sem poder de decisão, imparcial e independente, intervém com uma missão específica, tem por missão ajudar duas, ou mais, partes envolvidas a identificarem os pontos de conflito. No entanto, e de acordo com Caetano (2005), o “conflito não faz necessariamente parte do conceito de mediação, podendo esta visar tão somente, o desenvolvimento de relações por um terceiro” (op. cit. p, 43).
Como pude observar ao longo do estágio que desenvolvi no âmbito da Licenciatura, é comum ouvir os diferentes profissionais de educação afirmarem: - Eu faço mediação com os meus alunos! – Professor. - Eu faço mediação entre os professores e os alunos! – Director de turma. - Eu faço mediação de conflitos entre os alunos! – Psicóloga. Neste sentido, no meu entender a definição de mediação parece ser um campo não limitado na sua intervenção e subentender diferentes entendimentos. O debate em torno da mediação educacional parece encerrar-se em alguns dilemas: por um lado relaciona-se mediação a uma polissemia de conceitos e a uma heterogeneidade de práticas, sustentadas num deficit de formação e pouco acompanhadas de reflexão, o que parece fazer desacreditar o próprio trabalho de mediação. Por outro lado, existem práticas de mediação baseadas em procedimentos estandardizados ou formas de arbitragem encapotadas, que procuram unicamente o controle social (Caetano, 2005). Neste debate, surgem perspectivas de mediação que enriquecem o conceito, inserindo-se num processo cooperativo de gestão das diferenças, entendendo a mediação mais do que uma técnica remetida à ideia de resolução de conflitos, e perspectivando-a numa visão mais ampla, inserida “numa cultura de cidadania activa e de paz”. (op. cit. p, 44).
Ainda que entendendo a mediação num quadro de resolução de conflitos, Torremorell (1997) faz referência ao potencial educativo da Mediação. Sustenta este autor considera ser importante que nos afastemos, um pouco, da visão instrumentalizada de mediação – situado no conflito e na sua solução – para nos debruçarmos sobre um discurso sociocultural, no qual as relações interpessoais “são fonte constante de aprendizagem e de construções sociais partilhadas” (op. cit.p, 73). Neste sentido o autor estabelece cinco níveis de análise em consonância com as dimensões relacionais da pessoa: a mediação como formação integral (interpessoal), enquanto processo de aprender a ser; a mediação como processo que veicula convivência (interpessoal) actua como construtora de relações entre as pessoas, não é descritiva de prescrições de normas; a mediação como coeficiente de coesão (intragrupal) actua no seio dos grupos como factor de coesão, que estimula a dissensão, o debate reflexivo e o questionamento (ibidem) das dinâmicas instituídas; a mediação como nó de intercomunicação (intergrupal). Nesta visão, o trabalho de mediação desenvolvido dentro das comunidades, no caso das comunidades educativas, é constituído por grupos de profissionais da educação, alunos, pais, etc. e pretende-se que seja capaz de estabelecer relações que possam fomentar a concretização dos objectivos que uma determinada comunidade estabelece. Deste modo, a mediação deve ser entendida como facilitadora do “funcionamento conjunto e efectivo, estimulando o intercâmbio, tendo em conta a democratização de tomada de decisões e promovendo, por conseguinte, uma verdadeira participação que aglutina em vez de dividir (op.cit. p, 74); por último o autor refere a mediação como cultura (social), no sentido em que a mediação desenvolve competências culturais, atitudes de abertura moral em relação a outras concepções de entender a existência, ou seja, pretende-se deste modo abandonar a cultura do conflito “pela da mediação do consenso que vai de encontro aos ideais de paz” (op.cit. p, 76).
De acordo com os autores até aqui citados, parece ficar claro que abordagem da mediação se insere num paradigma da complexidade, em alternativa aos paradigmas da confrontação e da disputa, que propõe o diálogo e a restituição reflexiva do poder às pessoas, grupos, comunidades.
A este respeito Caetano (2003) dentro de uma perspectiva que designa por construtivista, e que se enquadra numa abordagem da complexidade, apoiada em autores como Tricoire (2002), afasta-se de modelos que confundem a mediação com peritagem, e dos modelos que se regem por perspectivas tecnocráticas - os quais se pautam por normas, procedimentos e métodos muito rigorosos na persecução de objectivos e da sua concretização e avaliação de resultados, no qual o mediador é um terceiro que se mantém neutral, subscreve um entendimento do mediador como um actor e autor dos processos nos quais se insere. Mais do que procurar respostas e resoluções de compromisso, o mediador “procurará favorecer a emergência de questões que facilitem o desenvolvimento da auto-reflexividade e auto-referenciação de todos e de cada um (nos quais se inclui) ” (op. cit. p, 45).
Ao mesmo tempo, a autora com base noutros autores, considera que dentro de uma perspectiva que enfatiza a criação de um campo de novas possibilidades através da criação de redes de diálogo e de construção narrativa, remete-nos para a ideia de um terceiro incluído, que dentro do sistema colabora no processo construtivo de criação de novas relações. Este elemento, o terceiro, estará “inserido em equipas de investigação-acção, constituídas por mediadores e participantes” (op. cit. p, 46) no qual se pretende um compromisso de todos os participantes, e onde as contradições e as diferenças são reformuladas de forma alternativa, e são toleradas e entendidas como uma vantagem acrescida decorrente da heterogeneidades e diversidades.
Nesta linha de pensamento, e de acordo com a autora citada, entendo que, dentro desta visão orientada por uma perspectiva da complexidade, outros modos pré-concebidos e métodos de mediação podem ser utilizados, desde que integrados numa perspectiva que vai para além de perspectivas aditivas, ou culturas de mediação que visam apenas a reparação e a ortopedia social.
Será que a mediação é uma solução para remediar todos os males? Na minha opinião, e de acordo com e pelo contacto directo com a realidade do Agrupamento em estudo, parece ser consensual que a mediação não se deverá levar a cabo em determinadas situações, tais como transgressão graves, roubo, abuso sexual, tráfico de drogas, como ainda aquelas que estão mencionadas no regulamento interno de escola, ou ainda nas situações em que as práticas de mediação não funcionaram, pode questionar-se o porque de não serem aconselhadas e a razões destas limitações. Neste sentido, e na linha de Caetano, (2003), considero que estas questões devem ser objecto de estudo “não podendo as posições basear-se na mera opinião ou numa experiência acumulada” (op. cit p, 49). Neste sentido, entendo que, para além de criar condições e mecanismos formais de mediação, será de suma importância ter em atenção a formação e as competências dos mediadores para desenvolverem projectos apoiados na investigação e na auto-reflexão.

5 - O mediador - Artesão de complexidades

Relativamente ao Mediador, não querendo por de parte a neutralidade e independência que é exigível ao mediador, tomando por referência o estabelecimento de ligações entre heterogeneidades, mundos múltiplos em contradição, ou ainda, numa perspectiva lógica na qual se presume e procura uma síntese unitária, o mediador não pode ser encarado como alguém que vai inibir os conflitos. De acordo com Correia, (2004), considero que o mediador “é alguém que vai potenciar os conflitos como transformadores da própria instituição. É aqui que a questão da comunicação entra, nas potencialidades que ele tem, não de pôr a funcionar melhor as instituições, mas de as transformar, o que é completamente diferente” [11].
Neste sentido, Correia, (2004), lembra que o mediador sociopedagógico[12], para além de ter que ser “alguém que seja capaz de ligar heterogeneidades”, (ibidem) tem também de se situar numa perspectiva de (re)contextualização de mundos e fazer da heterogeneidade uma riqueza acrescida. Ao mesmo tempo tem de se afirmar como “um animador de dispositivos de mediação e não de alguém que faz a mediação em nome da relação social de cada um”, (ibidem), isto é, não é alguém que vai inibir os conflitos, mas sim potenciá-los como transformadores da própria instituição. É aqui que a questão da comunicação entra nas potencialidades que tem não de pôr a funcionar melhor as instituições, mas de as transformar, o que é completamente diferente.
De acordo com estas ideias (Caetano, 2003) preconiza que o mediador ao privilegiar a qualidade das relações sociais é,
“simultaneamente implicado, ao mesmo tempo que se distancia, sendo um terceiro incluído… A implicação do mediador como co-autor, integra-se nos contextos para os quais é chamado e que se propõe activamente intervir, com objectivo ultimo o favorecimento da autonomia pelo desenvolvimento de interdependências”( op. cit., 47).
Estas, parecem ser perspectivas a ter em conta com vista a aprofundar o conhecimento do campo da mediação no contexto escolar, quer para a conceptualização e problematização (como se pretende com o caso do presente de estudo), quer para implementação de práticas de mediação.

[1] Terminologia Norte Americana.
[2] http://www.forum-mediacao.net/associacao.asp consultado em 22/07/09
[3] Ministério da Justiça. http://www.conselhodosjulgadosdepaz.com.pt/ consultado em 25/07/09.
[4] Conselho de Acompanhamento dos Julgados de Paz - http://www.conselhodosjulgadosdepaz.com.pt/index.asp consultado em 25/07/09.
[5] Dicionário da Língua Portuguesa, Porto, Porto Editora (2005).
[6] No relatório de ... fazia referencia à cultura balcanizada do professor “ uma cultura composta por grupos separados e, por vezes, competitivos, lutando por posições e por supremacia, tal como estados independentes, com poucas conexões”. (Fullan & Hargreaves, 1996: 71).
[7] Alteridade: - distância ou separação daquilo que é obstinado ou mau, facto de uma coisa ser diferente de outra. in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto, Porto Editora (2005).
[8] Importa referir que as práticas de mediação que foram observadas constituem modos de trabalho bem sucedidos no sentido dos resultados académicos e envolvimentos dos alunos em diferentes actividades levadas a cabo pela equipa do projecto TEIP.
[9] Correia, José, in entrevista à Notícias Magazine 13.04.08. pág. 28.
[10] Correia, José, in entrevista realizada no âmbito da LCE(2004).
[11] Correia, J., in entrevista realizada no âmbito da LCE, 2004.
[12] Correia utiliza a designação de mediador sociopedagógico a que associo o sentido que neste trabalho tenho vindo a atribuir ao mediador sócio-educativo.


CAETANO, A. (2005) «Mediação em Educação: Da conceptualização e problematização de alguns lugares comuns à modernização de casos específicos», Revista de Estudos Curriculares, APEC, Ano 3, nº 1, 41-63
CAETANO, A. (2007) «Complexidade e Mediação sócio-educativa nas assembleias de turma» Diálogo Educ., Curitiba, v.7, nº22, 67-80
CAETANO, A.P. & FREIRE, I. (2007). Medição em educação um estudo exploratório. Actas do VIII Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Castelo Branco: Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação.
CORREIA, José. & CARAMELO, J. (2003) «Da mediação local ao local da mediação: Figuras e Politicas», Educação, Sociedade e Culturas, 20, 167-191
GERGEN, Keneth (1999) «Rumo a um Vocabulário do Diálogo Transformador» in Dora F Schnitman,. & Stephen Littlejonh (Orgs.) Novos Paradigmas em Mediação, Porto Alegre; ArtMed, 29-45
e Análise de Conteúdo – Sentidos e formas de uso, Estoril, Principia Editora
LEITE, C. (2002). Medição em educação um estudo exploratório. In Actas do VIII Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Castelo Branco: Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação.
MOORE, C. (1998) O processo de Mediação – estratégias para a resolução de conflitos, Porto Alegre; ArtMed
SCHNITMAM, D. e LITTLEJOHN (1999) Novos Paradigmas em Mediação, Porto Alegre; ArtMed
SCHNITMAN, Dora F. (1999) «A Mediação: Novos Desenvolvimentos Geradores» in Dora F Schnitman,. & Stephen Littlejonh (Orgs.) Novos Paradigmas em Mediação, Porto Alegre; ArtMed, 101-125
SHAILOR, Jonathan G. (1999) «Desenvolvendo uma Abordagem Transformacional à Pratica da Mediação: Considerações teóricas e Praticas» in Dora F Schnitman,. & Stephen Littlejonh (Orgs.) Novos Paradigmas em Mediação, Porto Alegre; ArtMed, 71-83TORREMOREL, Maria Carme B. (1997) Cultura de Mediação e Mudança Social, Porto Editora, Porto (Edição/reimpressão: 2008)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Núcleos geradores no quotidiano

Do videoclip dos Royksopp, “Remind me”:

domingo, 4 de janeiro de 2009

“A emergência de uma nova actividade profissional - o profissional de RVC"
Não posso precisar quando comecei a interessar-me pelas coisas da Educação e da Formação, no entanto, julgo que foi na minha juventude, ao ouvir as palavras proferidas por um companheiro de trabalho. O autor destas palavras era um simples operário.
Estas palavras, levaram-me a tomar consciência de alguns aspectos:
1- A obrigação que todos temos de participar na educação e na formação do nosso semelhante, e, de partilhar conhecimentos e competências.
2- As enormes potencialidades que existem em cada criança, em cada jovem, em cada adulto, potencialidades estas que cumpre ao educador, ao professor, ao formador, ao profissional de RVC, fazer emergir.
Neste sentido, apresento alguns pressupostos teóricos que orientam a minha actividade profissional: Aprendiz de Técnico de RVC/Profissional de RVC.
Podem consultar o artigo na integra em:
"O profissional de RVC é uma nova actividade profissional, que emergiu com o trabalho realizado nos CRVCC. Estes profissionais têm um papel muito importante em todas as fases do processo e assumem um conjunto diversificado de funções, como se depreende da leitura do quadro anterior. Todavia, pode considerar-se que a sua principal função é referente ao reconhecimento de competências dos adultos pouco escolarizados. No desempenho desta função os profissionais de RVC têm como objectivos explorar os percursos de vida de cada adulto de forma a recolher elementos que lhe permitam inferir em que medida este apresenta as competências do referencial; motivar e envolver o adulto num processo de reflexão, auto-análise, auto-reconhecimento e auto-avaliação.Para além do reconhecimento, estes profissionais também asseguram a validação de algumas competências e a concepção dos instrumentos de mediação e de inscrição. Os instrumentos de mediação são elementos fundamentais para garantir a eficácia do processo de reconhecimento e para garantir a motivação e implicação dos adultos, daí a importância da reformulação e concepção de novos instrumentos. A validação de competências é também uma das funções que o profissional de RVC assegura ao emitir, junto do formador de RVC, um parecer sobre as competências que o adulto evidenciou ao longo do processo. O acolhimento e inscrição do adulto no processo e a divulgação do Centro são também funções asseguradas pelos profissionais de RVC.·Num dos Centros o acolhimento e a inscrição são uma função da exclusiva responsabilidade do profissional de RVC. Nesse Centro este é um momento de recolha de informação sobre o adulto, que permite fazer uma orientação para outras oportunidades formativas quando se percebe que o perfil apresentado pelo adulto não se adequa ao processo RVCC.O profissional de RVC é quem estabelece um relação mais próxima com os adultos ao longo do processo, isto porque, por um lado, o desenvolvimento dos instrumentos de mediação ocupa a maior parte das sessões do processo RVCC, por outro lado, o tema que abordam nas sessões de reconhecimento é, essencialmente, a experiência de vida dos adultos. Os profissionais de RVC promovem a rememoração da experiência de vida, o diálogo, a explicitação das actividades para cada função/tarefa, a escrita, o debate, a cooperação e as relações interpessoais entre os elementos do grupo. No exercício das suas funções o profissional de RVC assume várias posturas, a de animador, a de educador e a de acompanhador, o que varia em função das situações e do que lhe é solicitado pelo adulto. Adopta uma postura de animador quando gere de uma forma dinâmica as sessões de reconhecimento que se realizam em pequenos grupos, promovendo discussões e reflexões conjuntas e reforçando situações de entreajuda que surgem espontaneamente entre os adultos.

Assume-se como educador quando explica o processo, dá informações sobre a organização do dossier e o preenchimento dos instrumentos de mediação e quando esclarece as dúvidas dos adultos ao longo do processo. Adopta uma postura de acompanhador quando ao longo do reconhecimento ouve a narração do percurso de vida do adulto, motiva o adulto a reflectir sobre o passado, o presente e a perspectivar o seu futuro e quando o ajuda no processo de tomada de consciência.·Esta última postura é a mais significativa da actividade do profissional de RVC, e é a que melhor se enquadra nos pressupostos do próprio processo. Ao assumir uma postura de acompanhamento o profissional de RVC está a ser “um facilitador, um passador [...], um emancipador” (Lhotellier, 2001, p. 196).·O profissional de RVC garante um acompanhamento personalizado e torna-se um aliado do adulto. O principal tema de conversa, reflexão e debate é o percurso de vida, os interesses e motivações do adulto. O acompanhamento por parte do profissional é fundamental em toda a fase de reconhecimento, é esta relação de ajuda personalizada que permite orientar o adulto no bom sentido, motivá-lo, aumentar a sua implicação, promover o auto-reconhecimento e a auto-estima. Seguindo a perspectiva de Guy Le Bouëdec (2001a, p. 24) “acompanhar é ir com alguém, ao lado de, ir em companhia”. O profissional de RVC faz um percurso com o adulto enquanto este fala e escreve sobre a sua vida, durante esse percurso de organização do dossier pessoal, o adulto é o “actor principal”, o profissional de RVC apoia e ajuda mas não se coloca no lugar do adulto ou no centro da acção, “não dirige os acontecimentos” (Bouëdec, 2001a, p. 24).·Durante o acompanhamento do processo RVCC, o profissional assume posições distintas. Tomando como referência a tipologia apresentada por Robert Stahl (2001, pp. 104), na maioria das vezes adopta um registo de escuta, ajuda o adulto a construir a narração do seu percurso de vida, questiona-o, e orienta a sua reflexão; por vezes, adopta um registo de análise, que é, essencialmente, notório quando diagnostica as competências do adulto a partir da narração e do referencial; e também pode dizer-se que adopta um registo de influência, quando confronta o adulto com a análise que realizou, o que é fundamental para lhe promover a tomada de consciência
Os profissionais de RVC quando assumem um registo de influência utilizam-no, por norma, como estratégia para valorizar o adulto, para lhe transmitir confiança nas suas capacidades e para promover o auto-reconhecimento do adulto, o que é muito importante no caso dos adultos que realizam o processo RVCC. Estes adultos sentem-se, na maioria das vezes, estigmatizados pela sua reduzida escolaridade, ignorando e desvalorizando as suas experiências, saberes e competências. Quando o adulto reconhece as suas próprias capacidades, percebe que tem recursos para influenciar o seu presente e o futuro. A adopção dos diferentes registos na situação de acompanhamento depende do adulto em processo, da dinâmica que se gera ao longo das sessões e das competências do profissional. De qualquer modo, a atitude adoptada pelo profissional de RVC deve ser um factor de vigilância permanente por parte dele próprio e das equipas, porque “o acompanhamento não é neutro” (Bouëdec, 2001c, p. 104).O profissional de RVC quando assume uma postura de acompanhamento manifesta uma atitude de valorização do outro, de escuta positiva e empática, como referem Hennezel e Montigny (citados em Bouëdec, 2001b, p. 49) “entre as qualidades de bases de um bom acompanhante, eu insisto sobre a humildade, a autenticidade, a espontaneidade, a generosidade, a abertura de espírito, o respeito pela diferença, a escuta empática, e a capacidade de suportar os silêncios”. A relação numa situação de acompanhamento é desconhecida para o adulto e construída pelo profissional através da sua experiência de trabalho. No discurso dos profissionais de RVC é notório que aprendem “através da prática, por ajustamentos sucessivos” (Bouëdec & Pasquier, 2001, p. 16), mas também valorizam bastante a formação contínua, considerando-a essencial para a sua evolução profissional. Os profissionais de RVC podem considerar-se “passadores” no sentido em que Christine Josso (2005, p. 119) refere, porque estão preocupados em saber para onde é que a pessoa quer ir e tentam perceber o tipo de ajuda que lhe podem prestar durante um certo período nessa caminhada.·A emergência do profissional de RVC nos CRVCC dá lugar ao nascimento de uma actividade profissional, que para benefício de todos os que participam neste processo, deve ser definida e baseada num suporte legal. Importa clarificar e definir as funções e actividades deste novo profissional, as competências requeridas para o exercício da profissão, assim como, as regras éticas e deontológicas pelas quais se deve orientar.”


in: Cavaco, Cármen (2007). Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências. Complexidade e novas actividades profissionais. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 2, pp. 21-34. Consultado em [01, 09] em http://sisifo.fpce.ul.pt

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Em construção



Em construção...


Desculpem o mau jeito! Estou ocupado!!!

Neste momento estou a ler "A Miséria do Mundo" de Pierre Bourdieu, este livro propõe uma outra maneira de fazer política para...

O autor foi professor de sociologia no College de France e director de estudos em Ciências Sociais na École des Hautes Ètudes. Em grupo, com outros sociólogos, dedicou-se durante três anos a compreender as condições de produção das formas contemporâneas da miséria social. O bairro, o lugar, a escola, a família, o operariado, os funcionários públicos, o universo dos camponeses e dos artesãos, etc., e, tantos outros espaços onde se desenrolam conflitos específicos, onde se afirma um sofrimento cuja verdade é revelada neste livro pelos que a vivem. Os resultados que estão abarcados nesta obra, além de pequenas novelas que explicam por que as pessoas fazem o que fazem, desvendam o quotidiano, por exemplo : - de um director de escola que foi vítima da violência urbana; de um policia num bairro de periferia; de uma assistente social abandonada num hospital; de um metalúrgico órfão da classe operária; de um “extrema direita” dependente da família; e de tantos outros....

Boa leitura! - Eu estou a gostar.

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